Peguei aquele meu tênis velho e imundo que tu gosta tanto
e comecei a odiar o mundo por essa coisa de distância, por não podermos nos
teletransportar pros braços de alguém.
Pensei também que tu ia sair hoje, como nós fazíamos
todos os finais de semana juntas, pensei que tu ia beber até pagar mico por aí,
mas sem mim, dessa vez. Juro que te vi tonta e dizendo que estava tudo bem,
juro que te vi ficando bem na marra pra me cuidar, afinal eu sou mais vulnerável
e tu sabe disso, uma das poucas pessoas que sabe disso.
A pouco o Rafa abriu meu ares e reparou uma música e
disse que não sabia que eu gostava dela, e eu disse que isso não era coisa
minha, e era coisa tua, afinal tudo que é meu é teu, absolutamente tudo. O
Rafa, ele tem ajudado bastante a segurar as pontas, a me manter forte quando a
saudade ta corroendo, machucando, mas falta um pedacinho de mim. Pedacinho
mesmo.
Parei pra pensar que eu odeio partidas, despedidas e
coisas do tipo, porque nada parte e nada rompe no fim das contas. Todos os dias
que eu fico no meu quarto as coisas ao meu redor me fazem pensar em ti, as
roupas, os cacarecos, tudinho.
Mas o tênis velho e imundo é talvez a maior das
recordações materiais de tudo que nós vivenciamos. Minha pequena, sei que teu
coraçãozinho não está bem, e isso que nem falei contigo, mas eu sei, eu sinto
aqui dentro. Sei que hoje tu vais sair e contagiar o mundo com o teu sorriso
lindo, mas eu sei o que te toca ai dentro, quero que tu lembre sempre que eu
vou te segurar, te levantar, que o que não mata, fortalece, que nada é
definitivo. E olha meu amor, se tu não tiver mais forças eu te dou a minha. Se
teu coraçãozinho estiver machucado demais, eu também te empresto o meu.
Pequena, tens meu tênis sempre que precisar, bem como o
meu coração.
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